Epônimos: os nomes que dão nome aos nomes

João Maria de Lima

“E Ele lhes disse: Porém vós, quem dizeis que eu sou? E respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo.” Marcos, 8:29

Existem algumas personalidades históricas ou mesmo lendárias que emprestaram o nome a objeto, lugar, época, dinastia ou qualquer outro item que designe uma homenagem ao autor. Só para citar dois casos, basta lembrar do sistema de escrita com pontos de relevo que as pessoas abstidas de visão podem ler pelo tato chamado “braile” ou do instrumento utilizado para decapitar condenados chamado “guilhotina”. Esse aspecto da lexicologia recebe o nome de eponímia, palavra grega (epi=sobre; onima=nome). Vamos ver alguns casos e entender a origem de alguns nomes.

A utilização de epônimos não é recente, conforme se percebe na criação de alguns meses do ano. Janeiro, por exemplo, foi criado em virtude do deus Janus, protetor das portas e entradas de uma casa ou cidade. Janela vem de “janua”, palavra latina com o sentido de entrada principal de uma casa particular; março origina-se de Martius, o deus da guerra, segundo a mitologia romana; maio é dedicado a Maia, deusa casada com Vulcano; junho advém de Juno, deusa venerada pelas mulheres, esposa de Zeus, o deus dos deuses; julho refere-se ao imperador Júlio César, que recebeu a homenagem dos romanos após sua morte; agosto foi o nome dado em honra a Otávio Augusto, filho adotivo e herdeiro de Júlio César.

Alguns nomes se caracterizaram pelo lado negativo. Um magistrado romano chamado Lucius Antonio Rufus Appius emitia sentenças favoráveis a quem pagasse e, em seus documentos, assinava L.A.R. Appius. Isso originou o termo latino “larappius”, que passou a designar ladrões e corruptos e, mais tarde, foi aportuguesado para larápio. O termo pinel, gíria para pessoa com distúrbios mentais, advém do médico francês Phillipe Pinel (1745 – 1826), que libertava loucos presos em correntes.

O médico francês Joseph-Ignace Guillotin (1738 – 1814) criou a guilhotina, para amenizar o sofrimento da vítima que sofria quando a pena de morte culminava num enforcamento ou numa decapitação com machado, métodos poucos produtivos num primeiro momento, o que estendia a agonia do réu. O curioso é que, graças à rapidez do ato, a multidão presente na inauguração não considerou o método divertido e até solicitou a volta do enforcamento ao rol das condenações.

Grandes benefícios para a humanidade receberam o nome de pessoas ligadas a eles. Um desses itens é o sistema de escrita para deficientes visuais, denominado “braile” em homenagem a seu criador, o professor francês Louis Braille (1809-1852). Mesmo tendo perdido a visão quando criança, ele completou os estudos numa escola para cegos em Paris e tornou-se professor. Diante da dificuldade enfrentada, resolveu criar um sistema de escrita com pontos sobre as letras, o que facilitou a vida dos deficientes visuais  em relação à leitura e ao conhecimento. O vocábulo “volt”, usado para medir a diferença do potencial elétrico, deriva do físico italiano Alessandro Volta (1745 – 1827), também inventor de vários aparelhos elétricos, inclusive a pilha.

Algumas patologias foram nomeadas pelos seus descobridores ou apenas para facilitar a memorização dos efeitos que elas desenvolvem. Uma delas é o mal de Alzheimer, que foi registrado dessa forma por lembrar o primeiro médico que reconheceu a patologia, Aloysius Alzheimer (1864 – 1915), durante um congresso apresentado na Alemanha nove anos antes de sua morte. Mais alguns casos: sanduíche – conde John Montagu IV, conhecido como conde de sandwich (1718 – 1792); motor e óleo diesel – engenheiro Rudolph Diesel (1858 – 1913); pasteurização – cientista Louis Pasteur (1822 – 1895).

Evidentemente, a lista dos epônimos é enorme e não poderia ser finalizada aqui. Pesquisar sobre esse assunto significa enriquecer os estudos linguísticos e satisfazer a curiosidade diante do que, talvez, jamais se chegou a imaginar. “O Senhor é um guerreiro, seu nome é: o SENHOR”. Ex 15,3

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